O Conselho Federal de Odontologia (CFO) participou nesta sexta-feira, dia 13 de março, do II Fórum Pernambucano de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais “Cromo somos especiais na Odontologia: Síndrome Down”. O evento, realizado pelo CRO-PE, objetivou sensibilizar os profissionais e estudantes de Odontologia acerca da necessidade de aprofundamento dos conhecimentos nessa área de atuação.
O Professor Doutor em Odontologia, Evaristo Volpato, que também é Tesoureiro do CFO, ressaltou na palestra “Cárie dentaria: conceitos e prática clínica em um ambiente especial” a importância do olhar preventivo à saúde bucal dos pacientes com necessidades especiais. “O cuidado com a saúde bucal desses pacientes requer particularidades específicas. Em mais de 20 anos de experiência a crianças com necessidades especiais, é possível afirmar que a orientação correta aos pais para o cuidado diário da saúde bucal faz toda a diferença na prevenção, pois a doença ‘cárie’ é afetada diretamente pelos hábitos alimentares, pela higienização e o uso de medicamentos. Nesse contexto, prevenir é muito mais fácil do que tratar, considerando as alterações cognitivas, de coordenação motora e comportamental”, explicou.
O Presidente do CRO-PE, Eduardo Ayrton Cavalcanti, esclareceu que a proposta do II Fórum é dar continuidade ao debate fomentado na primeira edição que abordou sobre a inclusão do atendimento ao paciente autista na rede pública. “Nesta edição a temática está voltada para a necessidade de capacitação dos Cirurgiões-Dentistas aos Pacientes com Síndrome de Down, associando o olhar técnico aos procedimentos de forma humanizada. De que forma nós, profissionais da odontologia, podemos melhorar o atendimento realizado, principalmente na atenção básica? Sabemos da dificuldade de acesso desses pacientes ao serviço público especializado. Buscamos contribuir para que o profissional que presta serviço na ponta saiba identificar, atender e acolher os pacientes especiais. O olhar inclusivo garante a qualidade de vida desses pacientes”, afirmou.
Rafael Marra, pai de Linda Mariano Marra, de 11 meses, que nasceu com Síndrome de Down, ressaltou os desafios enfrentados para a promoção de saúde bucal em pacientes com essa condição genética. Na palestra apresentada ‘Uma linda história de amor’, Rafael Marra, que também é Presidente do CRO-TO, compartilhou informações sobre a rotina e as superações como Cirurgião-Dentista e pai. “Crianças com esse tipo de síndrome apresentam nascimento tardio dos dentes de leite e fragilidade muscular (Hipotonia Muscular), o que dificulta na amamentação e na mastigação. Além disso, nascem com palato atrésico, ou seja, mais estreito, o que dificulta que a língua da criança fique acomodada dentro da boca, por isso a necessidade de realizar massagens no céu da boca a fim de expandir essa região. Caso o problema não seja corrigido, o ideal é que a gente parta para a utilização da Placa Palatina de Memória (PPM), que possui estimuladores para língua e lábios. Esse procedimento induz ao vedamento labial e a manutenção da língua, com melhora da musculatura orofacial da criança e desenvolvimento da respiração nasal. Meu objetivo é ajudar outros pais que têm filhos nessa condição”, completou.
Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais
Atualmente, dos 333 mil Cirurgiões-Dentistas inscritos no Sistema Conselhos, apenas 734 possuem especialização em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, de acordo com informações do portal do CFO. Ou seja, nem a rede pública ou a particular possui especialistas suficientes para atender essa parcela da população com a qualidade necessária. Essa realidade representa, inclusive, problema de saúde pública. Os tradicionais Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) do Sistema Único de Saúde (SUS), não dispõem de todos os especialistas necessários à saúde bucal da população.
De acordo com dados do último Censo Demográfico, em 2010, mais de 45 milhões de pessoas com necessidades especiais no Brasil ainda enfrentam a falta de olhar inclusivo para viver em uma sociedade adaptada. Esse número representa 23,9% da população brasileira. Entre as deficiências identificadas, a pesquisa considera quatro tipos: visual, auditiva, motora ou mental/intelectual. Nesse contexto, alguns grupos de Pacientes com Necessidades Especiais podem ter maior suscetibilidade para o desenvolvimento de doenças bucais, a depender do tipo de Patogenia sistêmica, alteração salivar, dieta cariogênica, alteração muscular e ineficácia da higienização.
Apesar de o Brasil estar incluído no 1/3 dos países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) que dispõem de legislação para as pessoas com deficiência, a saúde bucal é a assistência em saúde mais negligenciada para às pessoas com necessidades especiais, seja em âmbito ambulatorial, domiciliar ou hospitalar.
Por Michelle Calazans, Verônica Veríssimo e Camila Melo / Ascom CFO
[email protected]
Fotos: Thaís Salomão Gomes / Ascom CRO-PE